‘Ainda é difícil acreditar’, diz baiano escolhido para estágio na Nasa

Estudante de graduação da Ufba viajou para os EUA após receber bolsa. ‘Quando entrei na faculdade, eu já sonhava com um titulo de PhD’, diz.

O estudante baiano Carlos Vinicius Andrade Silva, de 22 anos, foi escolhido para estagiar no Ames Research Center, um dos centros da Agência Espacial Americana (Nasa) que fica no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. O jovem foi para o país há três meses através do programa “Ciências sem Fronteiras”, projeto do Governo Federal que pretende promover a ciência e tecnologia através do intercâmbio e da mobilidade internacional.

O estudante de graduação do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) é o primeiro aluno da instituição a conseguir uma “bolsa sanduíche” através do Ciências sem Fronteiras. Com o benefício, Carlos deve ficar um ano estudando nos Estados Unidos e, passado este período, deve retornar para o Brasil com as despesas pagas.

“Ainda é difícil de acreditar. Comecei a colocar o pé no chão quando minha universidade divulgou no site, e no Facebook meus amigos começaram a mandar os parabéns junto com familiares, colegas de escola e até os professores. Minha familia ficou muito feliz, foi algo muito inesperado” lembra. O estágio na Nasa será realizado entre os meses de junho e agosto deste ano.

Em entrevista ao G1, o estudante relata que a oportunidade de estágio na Nasa surgiu quando ele começou a trocar e-mails com uma pesquisadora que trabalha na agência espacial a partir de 24 de fevereiro de 2012, quando já estava nos Estados Unidos.

“O processo se iniciou, por mais incrível que possa parecer, com uma troca de e-mails entre estranhos, eu, e a pesquisadora da Nasa. Eu me interessava pelo trabalho dela e na troca de e-mails, ela conheceu um pouco mais sobre mim e me concedeu a oportunidade” afirma Carlos Vinicius.

O programa do governo cobre todas as despesas do estudante fora do país, desde as passagens de ida e volta até gastos com dormitório, alimentação e plano de saúde. Segundo Carlos, ele ainda recebe a quantia de 300 dólares por mês. “O custo de vida é literalmente zero graças à bolsa. É um sonho para qualquer estudante braseiro” comenta.

Objetivos

Atualmente, Carlos estuda no Stevens Institute of Technology na cidade de Hoboken, no estado de New Jersey, e segundo ele, o clima da cidade é bastante agradável.

“Ela é pequena, mas é ao lado de Nova York. Por conta de minha infância de interior, eu gosto muito de cidades pequenas e quietas com pouco trânsito e que dá para caminhar pela cidade. Então, gosto de sair para caminhar sempre que possível” comenta.

Ele também comenta que mesmo com a responsabilidade e seriedade com os estudos, nunca deixou de fazer as coisas de que gosta, mas ressalta que não tem como fugir de rótulos que são dirigidos a estudantes que se dedicam muito aos estudos.

“Passei muito tempo fazendo coisas do tipo ‘CDF’. Mas, me dava tempo para sair com meus amigos e ver um filme sempre que podia. Também sempre conversava muito com eles, nem que fosse por e-mail. Quando entrei na faculdade, eu já sonhava com um titulo de PhD. Eu tinha objetivos, e tinha metas. Queria vir para fora do país para aprender aqui e voltar para o Brasil como pesquisador e professor na universidade na qual aprendi a ser o que é cientista da computação. Sabia que ia ser difícil e que eu teria que fazer muitos sacrifícios no caminho. Se ser ‘CDF’ é ter optado por me dar menos luxo de lazer para atingir meus objetivos, posso dizer que sou sim” afirma.

Carlos não relaxa com os estudos e mantém uma rotina intensa de atividades e ainda arranja tempo para participar das atividades de um grupo de pesquisa que é distribuído em duas universidade diferentes, Hawaii University e na Drexel University.

“Como a Drexel University é aqui perto, dei sorte e posso participar de reuniões off line às vezes. Aqui na Stevens, comecei um projeto de pesquisa também relacionado a minha área, então isso também me toma tempo. Por fim, me permitiram pegar matérias de mestrado aqui. Resolvi aproveitar a chance para, ao fim do ano, ter cursado as mesmas matérias que um aluno fazendo mestrado em minha área de pesquisa cursaria para ajudar em meus problemas e questionamentos de pesquisa, visto que ainda sou aluno de graduação e as matérias não são focadas no meu campo de pesquisa”, relata.

Quando questionado sobre o que teria motivado uma pesquisadora da Nasa a escolhê-lo de maneira informal para um programa de estágio na agência, ele também se mostra surpreso.

“Conversamos pouco através de troca de e-mails e foi tudo muito rápido na verdade, acredito que tudo ocorreu em menos de um mês. Também como disse anteriormente, eu tinha alguns méritos acadêmicos que acho que chamaram a atenção dela, e minha historia desde que comecei a universidade também lhe interessou”.

Reconhecimento

Segundo o professor Eduardo Almeida, coordenador do mestrado de Ciências da Computação da UFBA e orientador de Carlos, a escolha do estudante baiano para compor o programa de estágio da Nasa não causa espanto e só comprova o talento e dedicação do graduando. “Carlos é um estudante muito esforçado. Em minha opinião, ele é o melhor estudante de Ciências da Computação da Ufba”.

O professor relata um momento que, segundo ele, já seria um anúncio de que grandes oportunidades fariam parte da carreira do estudante baiano. “Sempre recebemos muitos estudiosos e pesquisadores de várias partes do mundo no Instituto de Ciências da Computação da Ufba. Lembro que em 2010, o diretor do Centro de Engenharia de Software da Universidade do Sul da Califórnia, Nenad Medvidović, esteve aqui [na universidade] e após algum tempo conversando com ele, o convidou para quando terminasse a graduação fosse direto para o doutorado na USC, sem sequer passar pelo mestrado. O que só comprova a dedicação dele” afirma Eduardo Almeida.

Ele também afirma que é gratificante participar desse momento na vida do orientando e tem certeza que o conhecimento adquirido por Carlos no período em que estiver na Nasa será multiplicado no Brasil. “Isso pra mim é extremamente gratificante, eu tento abrir as portas e oferecer as oportunidades para os alunos. Abrir caminho e oferecer possibilidades de estudos em centros de excelência e depois esses mesmos estudantes voltarem e nos ajudar a construir nossos centros de excelência no Brasil, em especial na Bahia, é crucial para nós”.

Família

O estudante recebeu a informação de que havia sido escolhido para o estágio na Nasa na semana passada e a única forma de comemorar a conquista com a família foi através da internet. A ferramenta tem sido a única forma de contato com quem está em Salvador. Carlos é filho único da farmacêutica Carmozita Duarte, que durante entrevista ao G1 não escondeu o orgulho e a emoção que sente pela conquista do filho.

“Ainda é difícil falar. É uma felicidade ímpar. Eu imaginava que ele conseguiria algo grande pela determinação dele, mas não imaginava a Nasa” relata.

Carlos diz que os pais saíram das cidades de Curaçá e Juazeiro no interior da Bahia, para a Salvador, e até então, nenhum familiar havia saído do país. Ele também afirma que a notícia foi algo inesperado para todos, inclusive para ele

“Mais emocionado pela conquista por mim, fiquei por meus pais. Seus colegas de trabalho lhes parabenizaram enquanto estavam trabalhando. Eles sempre fizeram muito por mim, e sei que tiveram que fazer decisões difíceis e sacrificado oportunidades depois que nasci. Sempre quis ter tido a chance de lhes dar o devido reconhecimento pelos sacrifícios que fizeram para me ajudar sem ser através de dinheiro. Hoje, acho que consegui”.

Para o pai de Carlos Vinicius, o engenheiro mecânico Antônio Carlos, a entrada do filho no programa de estágio na Nasa cumpre algo que ele profetizou ainda na infância. “Uma vez quando ele tinha 10 anos e nós estávamos assistindo Independence Day, eu disse que ele iria proteger o planeta dos extraterrestres e agora isso se confirmou” brinca Antônio Carlos.

O engenheiro afirma ainda que o filho não era um estudante tão aplicado durante o período escolar, mas ressalta que a mudança ocorreu a partir do terceiro ano do ensino médio. “Ele não ligava muito para estudos, foi no terceiro ano que resolveu se dedicar. Ele não era um aluno tão aplicado, de jeito nenhum. Foi uma virada de 180º. No final do terceiro ano, ele passou em vários vestibulares. Mas acredito que o maior mérito dele foi superar as dificuldades e algumas limitações da Ufba e conseguir hoje ir para a Nasa” finaliza.

 

Fonte: Jairo Gonçalves e Rafaela Ribeiro \ G1

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