“Do seu santuário Deus falou: “No meu triunfo dividirei Siquém e repartirei o vale de Sucote. Gileade me pertence, e Manassés também; Efraim é o meu capacete, Judá é o meu cetro. Moabe é a pia em que me lavo, em Edom atiro a minha sandália, sobre a Filístia dou meu brado de vitória!”(Salmos 108.7-9)
No salmo acontece o que todos nós ansiamos: Deus se manifesta. O salmista está adorando, clamando, crendo e, de repente, Deus aparece, interrompe o monólogo e entra em cena. Deus fala. Nossa condição de vida diariamente nos desprepara para ouvir Deus. Mas Deus fala, sempre falou e continua falando. É nosso cuidado devocional e nossa adoração como prática diária a terapia para reavermos a possibilidade de ouvir Deus. Sermos sensíveis a Ele. Deus interrompe o salmista e participa de seu salmo. Ele proclama sua soberania. Nada fica de fora. Siquém, Sucote, Manassés, Efraim, Judá e mesmo Moabe, Edom e a Filistia. A soberania pedida pelo salmista “Exalta-te, ó Deus, acima dos céus; estenda-se a tua glória sobre toda a terra!” (v.5), já era uma realidade.
A soberania de Deus é algo que, como tudo mais que se aplica a Deus, é difícil de compreendermos. Há quem diga “Deus é soberano” significando que Ele controla tudo. Nessa perspectiva, ao ler as palavras de Jesus “Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados” (Lc 12.7), desconsidera-se o contexto que indica que o Mestre está enfatizando o cuidado de Deus e não o controle. Temos a inclinação de sempre ligar soberania a dominação e controle, porque se fôssemos soberanos, se tivéssemos todo poder, viveríamos controlando tudo e todos e, talvez, fazendo com que nossa vontade fosse sempre feita. Mas Deus não parece ser assim. Ao contrário! Ele nos surpreende com Sua generosidade e respeito para conosco. Sinais claros de Seu grande amor.
Este mundo não é o lugar da vontade de Deus. É, na verdade, o lugar da contradição da vontade de Deus. Por isso Jesus veio. Com Ele aprendemos a ceder à vontade de Deus: “Não seja como eu quero, mas como Tu queres” (Lc 22.42). Com Ele aprendemos a orar pedindo que a vontade de Deus seja feita (Mt 6.10). Com Jesus aprendemos que, não poucas vezes, resistimos e recusamos ser cuidados por Ele, do jeito dele (Mt 23.37). Deus é soberano e nos ama. Mas Ele não se enquadra em nossas expectativas. Ele não tem problemas em nos decepcionar. Ele não criou o universo para se impor e controlar. Ele nos respeita e na história somos também autores, temos também responsabilidade. Deus é soberano, mas nos fez autônomos – temos nossos próprios motivos e razões, critérios e normas, anseios e vontades. E é por isso que podemos adorar! Justamente porque podemos não adorar. Temos opção e adorar é uma escolha. Convido-lhe a fazê-la, todos os dias. Não há outra forma de adorar.