Vivemos, um raro momento da história em que a compressão se alterou em curto espaço de tempo. A unidade universal de todas as coisas brilha. Palavras como vírus, respiradores, confinamento, hospital de campanha está no mundo todo, que luta contra a morte.
No início do ano, a busca era pelo bem-estar coletivo e hoje pela vida. Estamos sozinhos trancados do lado de fora da vida. Nosso saco de emoções de sentir a mão do outro te agarrar em uma igreja, ou num shopping ou escola está suspenso.
Aqui na minha janela tudo que era é, mas não é mais do mesmo jeito. Estou aqui em casa com saudade do vivido, da vida que foi e não é mais. O filósofo “Heráclito” disse: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, não poderemos ter mais aquele mundo, aquelas pessoas. Uma cadeira, uma cama, um abajur aí morava uma vida, uma história e só é real no tempo passado. No presente é um não existir e é a realidade de oitenta mil seres humanos que se foram com este virus, hoje apenas uma cova no cemitério.
A travessia para o novo normal, traz mudança. Tudo vai se desintegrando.
Vidas, empregos, empresas, parece o último ato, com muitas cortinas se fechando. Outras abrirão, mas como serão? Com certeza com protocolos, com distância.
Tenho um amigo que com um notebook, apesar de funcionário de uma empresa brasileira vive em Lisboa, tudo on-line, está passando um ano lá. A pandemia alterou os antigos paradigmas sociais mudando o que pensavamos da vida. Apesar da destruição que o vírus tem feito, ele está criando um novo normal. Acredito que o vírus deixa três verdades doloridas: A vida é curta, Nada é garantido, Nós somos uma raça humana interconectada num mundo compartilhado.
O momento de disruptura é o instante ideal para a inovação. Está é a natureza da travessia. A vida não é sólida e imutável é mudança. Saber disso é fundamental para passarmos por qualquer tipo de perda. Precisamos deixar morrer o passado. Estamos sozinhos, cada um com sua percepção deste novo mundo e os meus atos dependem apenas de minha vontade, sendo que o novo sentido está em um lugar muito mais solitário pois agora o caminho é o da tecnologia e inovação, e a antiga vida está acabando. Mas sem mudança não haveria borboletas.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.