A salvação e a vontade de Deus

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.21-23)

Se estamos ligados a uma igreja ou mesmo se estamos afastados, mas cremos em Deus, saber a vontade de Deus é algo que nos toca e que consideramos importante. Porém, muito facilmente pensamos na vontade de Deus de forma reducionista, considerando-a como um caminho para nos darmos bem, para termos sucesso. Queremos saber se Deus quer que façamos ou não algo como mudar de emprego, casar com alguém, comprar uma casa… Há quem espere saber a vontade de Deus a respeito de um convite recebido para uma visita,  ou sobre a oportunidade de trocar o carro… Tudo isso parece muito espiritual e eventualmente pode ser relevante e necessário. Mas devemos considerar a diferença entre submissão e infantilidade. E também entre devoção e utilitarismo. Pois é possível que essa busca seja mais sintoma de egocentrismo do que de anseio em agradar a Deus. Queremos saber a vontade de Deus para que tudo dê certo para nós. O modo como nos ensinaram a lidar com a vontade de Deus as vezes excluiu nossa responsabilidade e alimenta nossa incompetência para lidar com a vida. Não é isso que Deus quer para nós e não é essa a Sua vontade.

A vontade de Deus, nas palavras de Jesus neste texto, assume o lugar de critério para a salvação, está relacionada com a nossa salvação. De que Jesus está falando? Com certeza não está dizendo que a nossa obediência nos torna merecedores da salvação, pois a salvação é pela graça, por meio de Cristo, por meio dEle. Não podemos ser nossos próprios salvadores. Jesus é o único e suficiente Salvador enviado por Deus a nós, porque Deus nos amou (Jo 3.16). O que Jesus está dizendo é que a submissão à vontade de Deus é uma evidência inegociável na vida de quem foi salvo, foi reconciliado com Deus. Em outras palavras, o sinal de que nossa entrega de vida a Cristo foi verdadeira, de que nossa fé está realmente firmada nEle, é nosso compromisso e escolha pela vontade de Deus, pela obediência. Jesus disse que, quem não negar a si mesmo, não pode segui-lo (Lc 9.23). A salvação se revela em submissão a Deus. Nossos ritos, orações, músicas… nosso modo de vida evangélico… nosso modo de falar e hábitos religiosos não servem para confirmar nossa relação com Deus. É preciso mais!

Reconciliados pela fé em Cristo, temos paz com Deus (Rm 5.1). E essa paz significa comunhão, submissão. Uma submissão que é mais profunda e relevante que apenas saber se Deus quer que eu troque meu carro este ano ou ano que vem. É uma submissão que remodela a nossa vida, que faz florescer amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23) – marcas da presença do Espírito de Deus em nossa vida. Na vida de quem está sendo salvo o que as pessoas podem ver é sempre menor do que o que está acontecendo por dentro. É como um iceberg – a maior parte está sempre submersa! Devemos nos avaliar à luz disso. Devemos nos perguntar sobre a vontade de Deus. Não da perspectiva de quem deseja garantir que tudo dê certo apenas. Mas, sobretudo, da perspectiva de quem anseia ser quem Deus quer que ela seja. Que não fiquemos apenas nas palavras -“Senhor, Senhor”. Que a beleza de Cristo seja vista em nós. Que sejamos um sinal do Reino de Deus.

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