A oração do publicano (Parte 1)

“Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.” (Lucas 18.13)

Assim como fizemos com a oração do fariseu, vamos também pensar na oração do publicando. O modo como as pessoas ouvem a nossa oração não é necessariamente o modo como Deus a ouve. Talvez muito poucas vezes seja. Certa vez me perguntaram num momento de estudo bíblico o que eu entendia com a expressão “uma oração que não passa do teto”. Creio que ela expressa justamente essa diferença. As vezes nossa bonita oração que encanta as pessoas, não passa do teto. E o problema não é falta de merecimento. Lembremos: o Reino de Deus é o Reino da Graça. Não somos ouvidos porque merecemos, mas porque somos amados. Todavia, não podemos ser ouvidos quando orgulho e vaidade nos dominam. Quando nos iludimos, enchendo-nos de vaidade por confiarmos em nossa justiça própria. Isso se torna um obstáculo entre nós e Deus. Porque Ele resiste aos soberbos (1 Pd 5.5).

A primeira parte da oração do publicano não se constitui de palavras. A primeira parte de sua oração são suas atitudes. Isso nos ensina que, antes mesmos de falarmos qualquer palavra a Deus, nossa oração já começou. Começou com nossas motivações e atitudes. Jesus disse que, diferente do fariseu que fica em pé e ora cheio de si mesmo, o publicano revela outra postura. Ele fica à distância. Ele não vai para a parte da frente do templo, que era tida como a destinada às pessoas mais importantes. Não que ele estivesse preocupado com as pessoas. Sua oração revela que ele tem em mente Deus. Ele não se sente digno. Não se sente digno diante de Deus. Talvez a maior dignidade de um pecador seja justamente isso: jamais perder de vista a indignidade própria. Uma consciência de fragilidade e imerecimento, diante da santidade e amor de Deus. Uma virtude espiritual, não uma fraqueza emocional ou falsa modéstia. O publicano ficou à distância e, diz Jesus, nem ousava olhar para o céu. Ele não ergue a cabeça. Ele demonstra a atitude de quem sabe que Deus sabe toda a verdade sobre si.

O que sabemos ou pensamos sobre nós mesmos tem grandes chances de ser, na melhor das hipóteses uma ilusão e na pior, pura soberba. A vida de fé e comunhão com Deus, dentre as muitas bençãos, nos possibilita a benção de crescer em consciência sobre quem verdadeiramente somos. Deus sabe quem somos e não se engana com quem pensamos, dizemos ou tentamos parecer que somos. E isso é importante para nossa espiritualidade. Há um salmo que diz: “Com a minha voz clamo ao Senhor” (Sl 142. 1). Deus não ouve orações que fazemos com vozes falsas, com vozes que não sejam as verdadeiramente as nossas. Quanto mais clareza sobre nós mesmos, mais maturidade e sabedoria em nossas orações. As vezes ouço orações de pessoas muito pouco dadas à religião. E como a oração do publicano, encanto-me com a quantidade de verdades ditas. Como um homem da religião, procuro estar atento para que minhas orações não sejam cheias e ilusões e mentiras. Tenha cuidado você também.

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