A montanha da alma

A montanha da alma

O mandarim é falado na China, Taiwan, Hong-Kong, Macau e Singapura sendo a literatura muito rica, mas poucos livros traduzidos para o português, como o do ganhador e do Nobel de Literatura Gao Xingjian, autor de “A montanha da alma”. Xingjian mora em um pequeno apartamento, próximo a Paris, em que vive desde que se auto-exilou em 1988.

A Montanha da Alma é um livro feito de notas, fragmentos filosóficos, descrições de botânica, canções populares, lendas chinesas e um sem-fim de peças. Xingjian gravou seu romance, sim, gravou, durante a caminhada de 15 mil km, sim, 15 mil km que fez ao longo de cinco meses, em 1983.

“Eu usava um gravador não por medo de esquecer o que estava vendo ou o que pensava. O fazia pela urgência de dar palavras àquela experiência no exato instante em que ela se produzia”, explicou o andarilho. A caminhada de Pequim a Sichuan, cerca de 2200 km e depois ao longo de todo o rio Yangtze cerca de 6.300 km mas palavras de Xingjian, foi uma excursão ao centro dele mesmo. Na ocasião, ele convivia com dois traumas. O diagnóstico de câncer de pulmão e a perseguição do governo chinês. O tumor, da mesma natureza do que havia matado seu pai, sumiu misteriosamente quando o escritor foi fazer um segundo raio-X. A repressão oficial chinesa não foi destruída nem pelo primeiro Nobel de Literatura dado para a língua mandarim em mais de cem anos do prêmio. Pelo contrário. O ódio do governo chinês ao escritor radicado na França teve metástase com a vitória do prêmio da Academia Sueca.

A montanha da alma é um relato dos personagens que vai encontrando e as histórias que vai ouvindo, por vilarejos, montanhas e florestas, à procura da montanha da alma.
Ao final, por exemplo, o protagonista chega diante de um velho sábio “apoiado em um cajado, vestido com uma longa túnica” e pergunta onde fica a montanha da alma. A resposta, evidentemente, não podia ser outra: “Quanto mais tu andas, mais tu te afastas”. Gafanhoto! Como Paulo Coelho, quando fez “O Caminho de Santiago” Xingjian se emaranhou no seu interior num emaranhado que foi a semente do seu sucesso.

Acredito que vivemos hoje a negação não de Deus, e sim do sentido de sua criação, e uma caminhada sem rumo é uma paz para a alma e se funde com as estrelas. Na vida cotidiana tem um turbilhão de mundanidade que não correspondem, as exigências espirituais, a caminhada é o momento de rever a vida, tentando encontrar Deus em uma abordagem diferente daquela da igreja oficial.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.

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