A mesma atitude de Cristo

“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Filipenses 2.5)

Quanta coisa temos a pensar a respeito dessa orientação de Paulo! Neste verso da carta ele começa um bloco de ideias que vai até o verso onze, em que descreve a humildade de Jesus e sua exaltação. Seu exemplo de obediência e serviço. Ter a mesma atitude de Jesus está no cerne da proposta cristã: a ideia e sermos seus discípulos. Discípulo é aquele que segue os passos. Mas há algo aqui importante para compreendermos. O seguimento a Cristo, ter a mesma atitude, conforme Paulo orienta, não significa deixar de sermos nós mesmos. Digo isso porque, na linguagem de algumas pessoas, o “não vivo eu, mas Cristo” (Gl 2.20), o “negue-se a si mesmo” (Lc 9.23) e o texto de hoje são interpretados de forma que indicam uma auto aniquilação que desumaniza e embrutece. Não se trata disso.

Lembro-me do tempo em que um famoso livro tornou-se muito popular e passou a ser o desafio espiritual a ser alcançado por quem desejasse levar a sério sua vida cristã: “Em seus passos, o que faria Jesus?” A abordagem continha coisas bem interessantes, mas a  proposta do livro era tentar fazer exatamente o que Cristo faria. E aí começavam os problemas. O primeiro de todos era ter completa clareza de como Jesus agiria em determinada situação, como por exemplo, se uma amiga da escola contasse que estava grávida do namorado, ambos com quinze anos. O que faria Jesus? O que faria Jesus numa briga conjugal em que a esposa, cansada de sofrer violência, desejasse o divórcio?   Se você fosse essa mulher, o que imaginaria que Jesus faria? O que faria Jesus na condição de um rapaz que, aos dezoito anos só tivesse olhos para outros rapazes, sentindo-se claramente atraído sexualmente por eles? O que faria Jesus? Em algumas situações muitos de nós diriam que Jesus não poderia estar nelas. Como colocar Jesus em situações assim e imaginá-lo agindo?

O seguimento a Cristo é de outra natureza e não se estabelece por métodos que possamos criar ou regras que tentem traduzir pragmaticamente seu sentido. O que Jesus foi e fez, foi e fez justamente porque nós não seríamos capazes de ser e fazer. Ele cumpriu o que jamais poderíamos cumprir. E crer em sua obra redentora e sua vida exemplar não significa que passamos a ser capazes de reproduzi-la. Seguir a Jesus é algo muito pessoal e diferente para cada um de nós. Não é tentar ser Ele mas, ao contrário, sermos nós mesmos como jamais fomos. E sendo nós mesmos, segui-lo é primeiramente crer no amor e na graça que nos são ofertados por Ele. Isso quebranta e regenera nosso coração. E a partir daí viver, honrar e partilhar esse amor e graça que nos dão vida. Seguir a Jesus é tornar-se alguém que dá o que dele recebe. Envolve lutas pessoais e mesmo renúncias. Mas, na maioria das vezes, bem diferentes das que facilmente nos vem à mente como produto de nossa formação religiosa.

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