“Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo.” (Gênesis 4.7)
Há um diálogo muito interessante entre Deus e Caim no texto de Gênesis. Nele o narrador inclui temas muito centrais da fé cristã e que ganhariam corpo dentro dos evangelhos e teologia muito posterior. Um deles é o pecado e o modo como lidamos com ele. O mal e as maldades que nos habitam.
Ser pecador é ser alguém suscetível ao pecado. Mais que isso, é ser alguém onde o pecado encontra lugar adequado para prosperar. Somos um terreno fértil para o mal, por mais bondosos que sejamos. Mas essa condição não é um incentivo para deixarmos as coisas simplesmente acontecerem. O pecado faz mal à vida, empobrece a existência, fazendo mal a nós e ao próximo.
A religião é o mundo onde o pecado tem lugar de destaque. Infelizmente ela apoderou-se do direito de classificar e definir pecados. Assim como a OMS tem o CID (Catálogo Internacional de Doenças), a religião tem o seu CEP (Catálogo Eclesiástico de Pecados) embora não o tenha necessariamente escrito e publicado. Já estiveram na lista: pintar as unhas de vermelho, trabalhar aos domingos, usar bermuda (homens) ou calça comprida (mulheres) e tantas outras coisas. Precisamos admitir que o que estou chamando de Catálogo Eclesiástico de Pecados carece minimamente de critérios e ordenação. A verdade é que a religião está sempre errando ao lidar com pecados, valorizando alguns e fazendo vistas grossas a outros, além de criar uma grande variedade. Com suas exigências e formalidades a religião acabou tornando-se um lugar fértil para um pecado em especial: a hipocrisia. E este pecado corrompe nossa fé pela raiz.
O que Deus disse a Caim na narrativa que lemos em Gênesis é muito instrutivo. O pecado é uma inclinação para agirmos mal. Isso pode envolver tantas coisas! Somente a comunhão com Deus nos ajudará a perceber essas maldades que nos pedem passagem. Ele alertou a Caim que o pecado não é o que sentimos, mas o que permitimos que aconteça a partir do que sentimos. Pecado é dar luz ao mal que nos habita. Veja essa expressão: “saiba que o pecado o ameaça a porta”! O pecado, mesmo praticado contra o outro, é uma ameaça a nós mesmos. É uma ameaça ao nosso bem estar, nossa segurança, nossa paz, nosso futuro.
Deus diz que Caim deve exercer o controle, dominando a inclinação que o convida a agir. E aqui todos nós sabemos muito bem o quanto fracassamos. Pois o pecado tem seus encantamentos. Ele nos oferece sabores e prazeres. Ele oferece alguma satisfação e vantagem. Se fosse amargo desde o começo não seria para nós uma tentação. As pessoas maduras espiritualmente saem-se melhor, pois reconhecem a própria fragilidade e assim apegam-se prontamente à misericórdia de Deus. E não há alguém que sempre se saia bem.
Por isso a graça é nossa única chance. Somos perdoados e acolhidos apesar de que jamais venceremos completamente nossa luta contra o pecado. Não nesta vida! Todos os filhos de Deus são pecadores. Todos os seguidores de Jesus são pecadores. Todas as pessoas que oram e são ouvidas, desfrutam comunhão com o Espírito de Deus, são pecadoras. E são todas também perdoadas e reconciliadas. Unicamente por causa da graça!
Então, celebre a graça. Seja humilde! Ame os pecadores com ama a si mesmo, pois você é pecador! É pecadora! Sirva, pratique a misericórdia e a compaixão. Desde o princípio foi sempre a graça e sempre será!