“Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino.” (Lucas 12.32)
Há um tipo de fé que tem sido pregada por muitos que exclui todo medo. Uma fé triunfalista, que nos faz empinar o peito e se achar acima da média, pelo menos. Que combina com ditados de muito mal gosto como “não sou dono do mundo, mas sou filho do dono!”. Uma fé que evoca um tipo de piedade que alimenta insensibilidade. Em que o agredido não sente dor e é incapaz de irritar-se. Em que o traído não se ressente e nem perde o chão. Um tipo de fé desumanizante, que leva a uma passividade estranha e adoecedora. Não é esta a fé ensinada por Jesus. Ele se cansou, chorou, admitiu “minha alma está angustiada” (Mc 14.34) e pediu a companhia de seus amigos mais chegados. A fé que Jesus nos convida a ter não nos livra de sermos vulneráveis, frágeis e fracos.
A fé do Evangelho do Reino é de um tipo em que somos nós mesmos, com todas as nossas fraquezas, medos e dúvidas. Não é um escudo que impermeabiliza a vida e nem um manto que nos transmite uma santidade que nos vacina contra toda tentação. É a fé que se vive no comum e no cotidiano, com suor e refrigério, sorrisos e lágrimas, certezas que nos enchem de entusiasmo e dúvidas capazes de nos paralisar. E a fé é justamente a resposta para tudo isso. Em meio a dor, ela anuncia esperança; ao medo, abrigo; à decepção, encorajamento. Mesmo nos reconhecendo frágeis e impotentes, ela nos faz enfrentar a vida como vencedores, na verdade, mais que vencedores por meio daquele que nos amou (Rm 8.37). Ela não elimina o medo, mas nos fortalece para enfrentar o medo.
Somos encorajados a não temer porque não estamos sozinhos, não porque somos imbatíveis! Não precisamos temer porque o final que esperamos é apenas uma questão de tempo, não porque a jornada será fácil. Por esta fé podemos dizer não a nós mesmo sem medo de que isso empobreça nossa vida, pois como dizia Jim Eliott “não é tolo, aquele que abre mão do que não pode reter para receber o que não pode perder”. É a fé de uma riqueza que não pode ser contabilizada pelos padrões matérias que regem este mundo. É a fé de uma alegria que confunde porque não precisa da lenha do sorriso para manter a sua chama, mas cuja chama permanece diante das lágrimas de momentos difíceis. Ela não nos faz encenar uma serenidade que nos castra as emoções. Ela nos envolve com a presença do Deus que nos abraça em nosso desespero e diz: não tenha medo. É assim a fé ensinada por Cristo. É essa a fé do Reino. É dela que vivem os cristãos e é a falta dela que nos faz meros religiosos.