A fé, a Páscoa e o Cristo

“Enquanto estava em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome. Mas Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos.” (João 2.23-24)

O importante é ter fé em alguma coisa! Essa é uma afirmação que ouvimos muito. Mas Jesus nos leva a concluir que não é bem assim. Certamente que devemos respeitar a fé de cada pessoa e não temos o direito de impor nossa fé a pessoa alguma. Até porque uma fé não pode ser imposta de fato. Em algum momento ela precisará ser uma escolha pessoal. Uma religião até poderia ser imposta, mas não a fé. Essa é a perspectiva da fé cristã e nela não vale tudo e nem qualquer coisa. Nela, Deus tem identidade própria e condições próprias para quem deseja relacionar-se com Ele. Deus vê o coração e as intenções e não se deixa manipular, não se deixa usar em troca de oferendas. Sacerdotes podem ser manipulados e usados. Deus, jamais. O texto de hoje nos apresenta pessoas que creram, mas para os quais, crer não foi o bastante, porque sua fé era de um tipo indevido aos olhos do Mestre.

Quando cremos de forma interesseira, nossa visão de Deus é corrompida e deformada. Em lugar de nossa fé nos levar a conhecê-lo e a nos submeter à Sua vontade, ela procura manipular Deus para que corresponda às nossas expectativas! O que desejamos é satisfazer nossas vontades. Este é o centro da fé interesseira! Por isso o texto diz que elas “creram” no nome de Cristo, mas acrescenta que “Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos”. Eles criam, mas não como deviam crer. É assim que “muita fé” revela-se falta de fé no momento em que o “nosso deus” é um desvio do verdadeiro Deus! Por isso Cristo avisou de antemão: me seguir vai exigir que digam não a si mesmos (Lc 9.23).

A Páscoa pode ser uma data muito significativa na fé cristã e o texto nos mostra que muitos milagres aconteceram nesse momento. Mas não adianta buscarmos manter a cerimônia que esse época do ano nos traz e esquecermo-nos de como vai nossa fé em Cristo Jesus. Ele nos conhece, vê nosso coração, sonda as intenções mais profundas de nosso ser. Por isso, para que não nos corrompamos – já que isso é tão comum de nossa natureza – precisamos depender de Deus e buscar o socorro d’Ele para que nos sustente na pureza de nossa fé. Os sinais miraculosos não superam a importância do coração em Cristo. Talvez por isso Ele não se confiava ao povo, pois o vislumbre dos milagres ofuscavam o brilho de quem Ele era. Ou seja, quando a dádiva se torna mais importante do que o doador, ficamos longe de desfrutar da plenitude divina.

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