Dizem que a democracia é o acesso do povo ao poder.
Há pouco mais de 15 anos, o crack, uma droga forte e poderosa oriunda da cocaína, chegou ao Brasil e fez do nosso país um dos seus maiores consumidores no mundo. O crack aumentou o acesso à droga no país, causando uma epidemia que até hoje está fora do controle.
Antes do crack, basicamente, havia três tipos de drogas ilícitas mais consumidas no Brasil: a cocaína, a heroína e a maconha.
A cocaína e a heroína eram, e ainda são, drogas “caras”, ou seja, de preço elevado e a grande maioria da população não consegue ter acesso a elas. Eram, e ainda são, as drogas do “rico”.
As pessoas mais humildes que desejavam entrar no mundo das drogas só podiam usar maconha, um entorpecente mais barato, que causa um vício relativamente fácil de tratar.
Já a cocaína e a heroína tem um poder viciante muito grande (a heroína vicia muito mais do que a cocaína). O poder da maconha viciar seu usuário é bem menor. Diante disso, via de regra, as pessoas mais humildes não conseguiam se viciar em drogas poderosas. O vício mais potente e letal era privilégio dos ricos.
O crack infelizmente mudou esse cenário. O crack é feito com cocaína, bicarbonato de sódio e água. É a droga mais viciante do mundo. São pequenas pedras fumadas num cachimbo. Dizem os especialistas que apenas uma, duas fumadas, e o usuário já estará viciado para o resto da vida.
Com a epidemia do crack espalhada pelo Brasil, ricos e pobres podem se viciar com apenas cinco reais, experimentando o crack uma única vez e ficando viciado para sempre.
Lembro-me das palavras que ouvi de um ex-usuário de drogas; na palestra, ele disse “todos os dias, todos os santos dias, sinto uma vontade enorme de usar droga, todos os dias travo uma batalha incansável para controlar minha vontade, não sei se vou conseguir, se pudesse voltar atrás, não teria sequer experimentado”.
O crack democratizou o direito de se viciar para sempre numa droga potente, capaz de causar alucinações em frações de segundos. Hoje, qualquer pessoa do povo tem acesso ao poder destrutivo desta droga.
E o resultado disso está nas páginas policiais dos jornais e blogs. O crack é uma epidemia democrática fora de controle.