A Banda

A Banda

Já acompanhei perícias trabalhistas, em bandas de carnaval. Quem paga para pular, divertir não conhece a estrutura dos músicos, trabalham muitas vezes em quatro shows em um dia, dormindo no ônibus, saindo de cidade para cidade. Naquela terra de ninguém entre a meia noite e o nascer do sol. Não existe silêncio nem entre duas canções. Pergunto-me se  ser música de banda de carnaval, significaria longas esperas para shows, longe da família, dias enervantes com ruídos acima do tolerável para o ouvido humano, medos e segredos.

Quisessem ou não, suas respectivas vidas giravam havia muitos anos em torno destes  shows, daquele foco incessante de, de que? Caramba de som muito alto que ao longo do tempo têm perda auditiva nos ouvidos, assisti um filme na Netflix “O som do silêncio” que um baterista perde a audição. Os foliões não se preocupam com isto, todos brincam ou descansam no chão morno como se fossem donas dos séculos, como se os minutos equivalessem a horas.

Uma confusa sensação na cabeça dos músicos de que a alegria dos foliões para eles é trabalho e stress. Os anos passam e estes músicos vivem na escravidão. E depois, sozinho, aconteceu uma coisa muito estranha: tudo estava normal para o empresário e o artista. Pensei de que havia uma conspiração contra minha sensibilidade no mundo. Todas as coisas parecem me dizer: pois é, numa banda de carnaval a alegria do músico é uma ilusão.

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