Quem tem noventa anos nasceu em 1930, época que o Rio de Janeiro era a capital do país, da música “Camisa listada” de Assis Valente,com os lindos versos: “Vestiu uma camisa listada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torrada, ele bebeu parati”.
Os dias passam rápidos, parece um sonho. Existem segredos que são joias raras nas memórias de quem chega a nove décadas de vida que é o coroamento da existência humana, onde há os mistérios da herança através de filhos, netos e bisnetos, as sentenças do destino com perdas de entes queridos, o dedo de Deus para se chegar tão longe no viver.
O nascer, o crescer e o morrer envolvem forças além de nossas pretensões. Não existe mais aquela infinita esperança inerente a juventude.
Já se compreende a vida com suas alegrias e tragédias.
Antes, quando jovem, não se tem pontos de referência. Tudo era banal e indiferente, agora tudo tem substância e sentido, ao mundo se juntaram mais 6 bilhões de seres humanos.
No ar que inspira um idoso nesta idade entra pelo peito a efêmera realidade das coisas, e os olhos já não contemplam sonhos longe, mas apenas um varal com uma camisa ou um vestido, e , ao fundo, a máquina de lavar roupa na área de serviço.
No passado, estava sempre tão no controle, tentando conquistar a vida que desejava para si,que jamais se permitia reduzir a velocidade a ponto de sentir qualquer coisa.
Não podemos controlar o futuro, mas escolher bem as pessoas para passar a vida e, nesta fase, o amor de filhos, netos, da família, a fé em Deus é o essencial, já que se sabe que dentro de alguns anos será o “nunca mais”.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.