30% das concessionárias de veículos podem ‘quebrar’ em 15 dias

Imagem de arquivo de uma concessionária em SP — Foto: Fábio Tito/G1
Imagem de arquivo de uma concessionária em SP — Foto: Fábio Tito/G1

Com o tombo histórico nos emplacamentos durante a pandemia de coronavírus, o futuro das concessionárias de veículos no Brasil é incerto. Das 7.300 lojas existente no país, cerca de 2,2 mil podem fechar definitivamente ainda em maio, de acordo com a associação das concessionárias, a Fenabrave.

“30% não suportam mais 15 dias por falta de liquidez”, disse Alarico Assumpção, presidente da federação.

De acordo com entidade, além da paralisação das lojas por conta das regras de isolamento, os bancos não estão repassando o dinheiro para crédito, apesar da liberação do Banco Central (BC).

As concessionárias de veículos do Brasil empregam atualmente 315 mil colaboradores. “Precisamos de previsibilidade, não temos um cenário, um norte”, argumenta Alarico.

Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), estados e municípios brasileiros empregam a quarentena ou isolamento social para combater o coronavírus, e mantêm o comércio fechado, exceto quando o serviço é considerado fundamental.

O último decreto federal sobre serviços essenciais na pandemia incluiu a comercialização de veículos na lista, porém, cabe a estados e municípios definirem suas regras de isolamento, como decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF).

Com os sistemas de saúde sobrecarregados, alguns estados determinaram um afastamento social mais drástico: o chamado lockdown.

Além de pedir a reabertura dos negócios, a Fenabrave trabalha junto com as montadoras de veículos para a liberação de R$ 40 bilhões em empréstimos para que o setor automotivo passe pela crise. “Precisamos de capital de giro para que o empresário possa trabalhar. Queremos esse dinheiro ao custo de mercado”, afirmou Alarico.

No mês passado, as montadoras também afirmaram o dinheiro não estava chegando ao consumidor, apesar de os bancos estarem “sentados na liquidez”.

Entre outras reivindicações, os concessionários também estão pedindo aos governos o adiamento de pagamento de impostos por 120 dias e negociando com as montadoras maiores prazos para a quitação de veículos e peças.

Regredindo 28 anos

No acumulado do ano, o setor de veículos registra queda de 27% nas vendas, ao comparar com o mesmo período de 2019, quando 839.417 veículos foram emplacados. Entre janeiro e abril de 2020, o setor atingiu 613.793 unidades, voltando ao patamar de 1992.

O tombo maior foi em abril, quando 55.732 automóveis, comerciais leves (picapes e furgões), ônibus e caminhões foram registrados, contra 231.922 em abril de 2019. Isso representa queda de 76% e fez o mercado regredir a números 22 anos atrás.

De acordo com a Fenabrave, mesmo com o fechamento dos Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsito), o que impede a colocação das placas em muitos lugares do Brasil, os dados correspondem ao total de vendas no período.

“Ele é 100% real (o número de emplacamentos). São veículos faturados, independentemente de estarem com o porte ou não da placa. A partir do instante que ele tem a nota fiscal emitida, ele já sai para o sistema do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) nacional automaticamente”, afirmou Alarico.

Concessionários pedem reabertura

De acordo com a Fenabrave, entre 35% a 40% das concessionárias do país estão em funcionamento parcial, operando no regime de dias alternados — um dia aberto e outro fechado. No caso das assistências técnicas, autorizadas desde o início da pandemia, todas estão funcionando.

Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina já autorizaram a reabertura das concessionárias locais, afirma a Fenabrave.

Para a entidade, o retorno no estado de São Paulo seria crucial para o setor. Com uma representatividade média de 26% das vendas em tempos pré-pandemia, SP teve em abril apenas 0,9% do número total de emplacamentos do país, disse a Fenabrave.

“Vamos perder de 30% a 40% nas vendas no ano, isso se considerarmos uma volta ( de todas as concessionárias) até dia 15 de maio”, afirmou Alarico.

Se isso não acontecer, a queda frente a 2019 será ainda maior, segundo prevê a federação. “Esse é um momento jamais vivido na história do setor, pior que 2014 e 2015”, relembra Alarico, os anos quando o Brasil teve duas quedas seguidas nas vendas de veículos depois de 10 anos de crescimento.

Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Instituto FSB mostra como deverá ser o consumo no Brasil quando o isolamento acabar. Em perguntas estimuladas, as pessoas responderam sobre a compra de carro no pós-pandemia:

  • Não pretende comprar em momento algum: 65%
  • Não pretende comprar antes de 1 ano: 18%
  • Comprar em até 1 ano: 10%
  • Comprar em até 6 meses: 2%
  • Comprar em até 3 meses: 3%
  • Não souberam ou não responderam: 2%

No total, 2.005 pessoas foram ouvidas em todos os estados do país.

Medidas de segurança

Para retornar as operações, as concessionárias propõem as seguintes medidas de prevenção:

  • Realizar escala de revezamento, visando reduzir o número de colaboradores, utilizando-se das alternativas previstas na MP 936;
  • Não manter, nas equipes, pessoas consideradas do grupo de risco, tais como idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas;
  • Controlar acesso ao showroom, evitando aglomeração de pessoas;
  • Reforço da alternativa de atendimento ao cliente, com agendamento prévio;
  • Estabelecer controle de condições clínicas e protocolos de atuação/encaminhamento, caso haja manifestação de sintomas por quaisquer colaboradores e/ou seus parentes próximos/de convívio.

“Nossas lojas nunca tiveram aglomerações. Vamos ter álcool gel sempre disponível e higienizar os carros de test-drive também”, afirmou Alarico.

Texto editado: G1

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