Se nascido no ano 1010, não teria a idade que tenho, era o milênio da violência, miséria e ignorância e a vida de qualquer ser humano poderia traduzir-se em três adjetivos: “selvagem, desagradável e curta”.
A expectativa era de vinte e quatro anos. Mas já existia o catolicismo e a fé cristã.
Mudanças? Sinto ao teclar o celular, no ar condicionado do escritório, na televisão, na luz elétrica, no automóvel, nos livros etc.
A cena hoje está na
inteligência e não na força física do primeiro milênio. Estamos destruindo o planeta pelo consumo, por não termos a vida simples do passado. Deixamos morrer o natural e vivemos o artificial e tecnológico.
A pobreza e fome cresceram, mas o ciclo biológico é o mesmo, a mulher sempre teve e terá um filho em nove meses. O ciclo das marés se mantém, a lua nova e cheia também. O modo de viver trouxe mais felicidade?
Em cada um vive o sangue dos que o geraram e é algo que anda para trás até a noite dos tempos. Assim somos apenas a curva de um rio, que vem de longe e não parará depois de nós.
– Então, como é que tem todas as respostas?
Algumas nuvens velavam o céu no passado e agora também mas não tinham relógio para marcar o tempo.
Nas calçadas andamos com passos apressados com celulares na mão, enquanto as amendoeiras e cerejeiras balançam ao vento, mas antes não existia calçada nem celular, mas já existia o vento.
Vejo pela janela do meu apartamento que a noite está vindo rápida, e
consigo ver as árvores perfurada por luzes diminutas movendo-se na escuridão. Existe neste momento horas de silêncio.
Um silêncio mais
absoluto e poderoso do que qualquer coisa pois mudaremos de ano, entrando em dois mil e vinte. A luz de dois mil e dezenove apagando gradualmente e ressurgindo poderosa em dois mil e vinte.
Sem a mudança na vida, não haveria também as borboletas.
João M T Lantyer