Minha voz era, nos anos 70, o modo como buscava a realidade; a realidade, antes de minha linguagem, existe como um pensamento que não se pensa, e por fatalidade sou impelido a precisar saber o que o pensamento pensa. A realidade antecede a voz que a procura.
Então, neste 2023, um adolescente de 13 anos esfaqueou seis pessoas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo. Uma professora identificada como Elisabete Tenreiro, de 71 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu aos ferimentos e faleceu.
Não é exagero dizer que uma noite de alienação custou a vida de uma professora. Os aposentos estavam às escuras, as lâmpadas apagadas, e o celular ou computador ligados, este menino era solitário e quanto maior o raio de influência de sites da Internet no seu universo, mais sua voz se escondia, e seu pensamento, como escreveu Gibran, era uma ave do espaço presa numa gaiola de desconexões, pois não estava no real, não existia a voz que procura o real, então sua vida saiu do real e o colocou num redemoinho do anonimato e do surreal. Hoje, muitos se perguntam como cavar espaço para si mesmo no mundo? Esta é a maneira trágica de dizer “Eu existo”.